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A que ponto chegamos!

Nesse momento qualquer noticiário ao redor do mundo mira suas lentes para o Rio de Janeiro, que cidade maravilhosa, suas praias, natureza, mulheres bonitas, drogas e balas perdidas, opa, drogas e balas perdidas, no Rio?

 

Com certeza Walt Disney não teria deixado que Donald Duck participasse das estrepolias de Zé Carioca nos dias de hoje, sorte nossa que o simpático e ininteligível pato desembarcou por aqui nos meados da década de 40.

 

Mas esse não é o assunto que deve ser abordado, mas sim a catástrofe social e humanitária que acomete o Rio de Janeiro. O mundo inteiro se pergunta, estaria o Rio de Janeiro pronto para sediar uma Olimpíada? Pela primeira vez começo a imaginar a real possibilidade, afinal, em outros tempos varreríamos a sujeira para um cantinho escondido, hoje resolvemos mostrar ao mundo a gravidade do acúmulo de sujeira embaixo do tapete.

 

O visual hollywoodiano das nossas favelas sendo transmitidas ao vivo em alta definição para o mundo realmente não é o que me deixa mais estupefato, mas sim as reações originadas por tais cenas.

 

Nunca fui muito adepto das tais redes sociais, contudo, ultimamente tenho notado que uma delas me dá a possibilidade de, em 140 rápidos caracteres, ter comunicação direta com o mundo real. Por que mundo real? Conseqüência da suposta imunidade de quem tecla na frente de um computador. E as reações geradas no twitter, nos programas de entrevista e blogs tem me causado excessiva preocupação.

 

Que o tráfico de drogas é um problema ninguém discorda, sempre foi, hoje vemos o resultado de anos de leniência com tal fato. Gastamos muito tempo discutindo acerca da proibição ou legalização, debate na maioria das vezes hipócrita, fundamentado em verdades nem sempre postas à mesa. Mas no fim das contas seu vício financia, sim, essa situação.

Não haveria armamentos pesados para defender algo que não tivesse valor de mercado, não haveria traficantes de algo que não gerasse procura, essa é a verdade. A legalização seria uma solução? Quem sabe… o que eu sei é que hoje seu comércio é criminoso e financia um poder não paralelo, como gostam alguns, mas confrontante com o que buscamos.

 

Observei uma séria de mensagens humorísticas sobre o fato, assumo que cheguei a sorrir com algumas delas, outras já me causaram medo, revolta, sei lá, nunca imaginei ler algo como “para cada carro queimado o governo deveria incendiar uma cela de presídio. Guerra é guerra!” ou “Quem tem que julgar bandido é Deus, nós só devemos acelerar a ida deles para o céu” além da clássica e eterna “bandido bom é bandido morto”.

 

Não vou utilizar este espaço para debater acerca da nossa responsabilidade na geração dos excluídos, hoje tratados como “dejetos sociais” mas somente alertar para o fato de que não tratamos agora da torcida pelo herói de cinema, nem debatemos a estética de algum filme nacional produzido para que os gringos entendam nossa realidade, mas tratamos sim de seres humanos que por algum motivo tomaram o caminho errado.

 

Aí cheguei onde queria, tomaram o caminho errado, errado por que? Porque atinge regras básicas de convivência, isso faz deles seres contrários ao mundo do “dever ser”, vivendo na contramão das garantias que nos proporcionam uma pax social.

 

Interessante, agora há pouco citei frases de pessoas que, em tese, estariam do nosso lado da sociedade, mas caberiam também na fala de qualquer marginal ou traficante de drogas! A que ponto chegamos, respondendo na mesma moeda, nos tornando cada vez mais igual aquilo que mais repudiamos.

 

Estamos sim em guerra, e toda guerra é feita de dois lados, no meu caso, fruto da geração coca-cola, resultado de uma cultura oitentista que simplificou as relações sociais, os lados podem ser classificados em mocinhos e bandidos e, o que determina a diferença entre os dois são as atitudes, os conceitos, a forma de pensar. Combater bandido não basta pra ser mocinho, os bandidos também se digladiam, para ser mocinho deve ser, sim, melhor que o bandido ou, ao menos, diferente!

Fica a pergunta a ser feita à consciência de cada um, de que lado você está?

Boa sorte Rio de Janeiro, que Deus lhe acompanhe nessa empreitada e julgue aqueles que por lá chegarem, mas guarde também seu julgamento para aqueles que muitos pra lá mandaram!

Frederico G. Fleischer - 26 de novembro de 2010

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